domingo, 2 de outubro de 2011

PERFUME - II

Tu dorme. Bela e satisfeita, enquanto admiro cada uma das tuas pintinhas e vivo cada um de teus suspiros. Te aperto e todas essas materiais certezas que é te ter junto comigo.

Não há casa melhor do que esta que construímos com as nossas conversas, afinidades e gemidos.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Perfume - I

Minha querida Rosa,

Já há um jardim para o teu perfume. Construí-o clamando por chuvas no deserto e carregando minhas pedras, uma a uma. A lua nos faz companhia. 

Nos terraços, fiz a minha própria Babilônia. 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Das Dores - III

Minha boca, novamente ferida. Dessa vez, é a marca de teus dentes. Tu, animal faminto, a se alimentar. Eu, criança, igualmente bicho. Nós e nossos beijos transformados em mordidas.

Sempre fomos incapazes de enxergar o que separa a sedução do sofrimento. Teu amor tem gosto de sangue.

Florentino

Às vezes, nas madrugadas, tenho vontade de chorar por todos os meus momentos de Florentino Ariza. Um Florentino que jamais envelheceu.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A vida, desde as imaginações até a dor física, é vívida de maneiras muito diferentes. Só não é diferente quando se acorda para que tudo termine da mesma maneira, à noite. Quando se termina algo já pela manhã, pelo início, pois esse “saber o final” faz com que o caminho aproxime-se do fim. A mesma chuva que cair pela manhã, vai fazer da terra lama durante a tarde e a noite. Não há diferença. As lágrimas choradas na noite anterior deslizarão pelos poros durante a próxima noite também, elas são as mesmas, os mesmos erros, as desilusões todas, as dúvidas. O que me escondem? Por que não me dizem qual é esse segredo? Tenho medo de descobrir que não existe segredo algum e que todos estão na mesma situação, vivendo do mesmo jeito. Viver não é o verbo adequado para está ação, apesar de verbos não servirem apenas para nomear ações no tempo. De dentro para fora, tudo queima, tudo arde em um fogo fátuo, gélido. Um fogo sem luz e olhos sem luz, sem brilho. A luz se aproxima e é tragada para dentro, de lá ela não sai. Acima dos ombros tudo é mais pesado, tudo é mais noite. Aquém, tem-se o peso físico, o peso e a massa, o corpo que sustenta. Além dos ombros, há o peso infinito. O peso de todo um universo, um universo interno e desigual, muito caótico e sombrio. O olhar pesa mais do que todas as toneladas de todas as coisas e a mente carrega os sentidos para além das medidas. A fantasia tortura e os fetiches masoquistas dilaceram a própria mente que os cria. A maior dor de todas é a minha, sabia? É. Ela é a maior de todas no universo que tenho dentro de mim, e quem quiser me matar estará destruindo tudo aqui, todo um universo com seu próprio andar do tempo, suas próprias luzes, estrelas e constelações. E, como no universo de fora, uma estrela morta ainda emite luz, uma estrela morta dentro de mim ainda emite dor.

Quanto mais densa a estrela, menos tempo ela viverá. Os cientistas astro-físicos disseram isso e olharam para dentro dos homens ao dizerem isso. Mesmo não sabendo, eles olharam para a mente dos homens e disseram: os mais densos, menos viverão. Algumas delas, dessas estrelas, com sua gravidade tão potente, sugam a luz e energia de outras, assim como dentro de mim alguns pensamentos drenam a energia que outros emitem para o meu corpo. A freqüência dos sons vibra dentro do coração dos homens como a gravidade distorce a luz dentro e à volta das estrelas. Essa é a única analogia válida: o homem é um universo e o universo, como casa dos homens, contém todas as mentes. Saturno é o coveiro que suscita a maldade, e dentro de nós Saturno enterra aquilo que apodrece. Mas, aquilo que apodrece nem sempre está morto; após enterrado, pode pôr os membros para fora da terra e tentar sair de dentro da cova. Romper a lápide, levantar da cova e acender velas. Saturno não leva a sério seu trabalho.

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O caranguejo estava a serviço de Hera quando mordeu Hércules. Ele deveria resgatar a Hidra e protege-la da força de Hércules para que Hera realizasse sua vingança de ciúmes contra Zeus e seu filho. Este esmagou o caranguejo, que foi premiado por Hera com uma constelação para si. Morte no rancor, na batalha, mesmo sendo insignificante para a força de Hércules. Ele atacou Hércules dissimulada e bravamente.

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Se tentar tocar o universo do outro um grande choque ocorrerá, uma grande explosão, o nascimento ou a morte de uma estrela, de um sol que vai arder e queimar até que se extinga. O tempo não é o mesmo, então o sol pode queimar e devastar tudo por muito tempo, por minutos, por dias e por noites que nunca irão acabar. O centro do universo da mente é a lua, e a matéria prima não são elementos químicos, a matéria prima é o silêncio. Há solidão entre as lacunas de silêncio e olhos. Nightmares, oh nightmares come on now, getting my days all worng now. In the end you sink or swim. Eu faço um trato com o caos do meu universo: eu dou papel e palavras a ele e ele me deixa em paz por alguns momentos. É a vontade de tornar-se outro, é a vontade de fazer uma nova ordem dentro de si, um novo escopo, fazer a gravidade apontar para outra direção. Nas explosões das nossas estrelas internas o devir se manifesta e abre brechas de ordens dentro do caos.

Ele andava cansado pelas ruas.

Carregava livros, papéis, tintas, preocupações. As esquinas se tornavam escolhas, e cada pedaço sujo de calçada ou asfalto era o solo estéril que acolhia seus pensamentos angustiados. Ao anoitecer, costumava olhar pela janela de seu apartamento e pensar que lhe estavam escondendo algo; algo essencial para a vida, para manter sanidade; talvez uma idéia, um jeito de raciocinar, um jeito de acalmar a alma. Essa impressão o angustiava ainda mais, o fazia acreditar que algum segredo lhe era proibido e que antes de a ele revelar-se teria de, simplesmente, suportar.

O que se sabe, o que se entende... Nada. Olhar para dentro significa estudar algo só seu, só para si que não tange o externo. Isolar-se ainda mais com um muro de consciência hiperativa, neurótica e dilaceradora. Quando os olhos voltam-se para dentro deveria haver uma placa grande e nela escrito: “Keep out!”. Mantenha-se fora de você mesmo, longe dos buracos negros que podem lhe tragar para o caos desconhecido e envenenado caos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A Noite e uma Certa Senhorita - I

Ela se sentou, rodeada das pequenas coisas familiares que fazem seu cotidiano. Não havia garras ou unhas em seus novos companheiros. Apenas pelúcia, enquanto apertava e aspirava o material sintético. Desvia as lágrimas, evitava o perfume. Achava de todo uma injustiça compartilhar os redemoinhos que sentia. Já bastava o seu lar levado, arrastado, fulminado. Já bastava ser ela o olho do furacão, imperturbável e calma em meio ao caos.
- Mas eu não estou mais lá. 
Repetia para si mesmo e nenhum ursinho ousava contrariar.

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Saiu para a luz amarela. Sempre se achava muito amarela. (Sem piadas sobre hepatite.) Era mais como o Soldado Amarelo, a pisar duro nas cidades e a perder-se pelo sertão. No sertão, não era nada. Mas nas calçadas iluminadas de luz amarela dançava e seduzia quem quer que fosse. Ali não se importava com os ventos e com as marquises. Qualquer mulher seria sua e ela não seria de ninguém. Mas daí ela parou. Parou meio sem saber porquê. Acho que, por debaixo de tanta ventania, ela se sentia só. Sempre desencorajou qualquer uma a tentar passar pelos ventos. Não há duas Senhoras da Tempestade.

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Entregou-se à rua e às noites. Havia outros amigos que amavam as madrugadas. Há silêncio e estrelas na madrugada. O sol amarelo também se esconde, ficando apenas suas pequenas representações nas vias públicas e residências. É impossível não sorrir quando o frescor noturno vai substituindo o dia tão totalitário em seu calor e luminosidade. 
G. sorriu. Ele tinha um amor diferente. Na verdade, nossa "heroína" sequer sabia sobre as fronteiras do amor. Poderia ser uma fuga qualquer também. Pensava longamente sobre G. Não gostava muito de por onde suas ideias andavam a respeito desse amigo. Até porque, ao vê-lo, sabia que era amor o que sentia por suas barbas e seus olhos azuis. Amor e desespero, por saber que o amigo criava ao redor de si um tufão a rivalizar qualquer outro do Oceano Pacífico.
Os seus passos lamentavam os perigos das caminhadas noturnas. 

(... continua)